Artigo escrito por: Isac Sicsú
Retirado do site Coalizão Pelo Evangelho
Minha decisão durante estas eleições foi de não tornar meu voto público por duas razões básicas. Primeiro, por uma questão ética: Abomino voto de cajado (ou cabresto). Sei bem que o fato de publicizar meu voto não necessariamente signifique que minhas ovelhas ou as pessoas debaixo de minha influência sejam obrigadas a votar como eu. Ao mesmo tempo, sei bem que muitos poderiam não entender completamente minha declaração publica de voto e entendê-la como um movimento “eleitoreiro”. Por isso, ficarei em silêncio. Ser pastor, às vezes, significa estar entre a cruz e a espada. Nestas horas, a melhor conduta é a prudência.
Segundo, não declararei meu voto por uma razão didática: Creio que se um cristão precisa ouvir de um pastor ou líder eclesiástico em quem deve votar, qual carreira seguir ou com quem deve casar, este cristão precisa amadurecer e compreender que o cristianismo é uma experiência de formação, crescimento e emancipação. Votar em alguém porque o pastor também vai votar, sem qualquer reflexão ou avaliação criteriosa é um movimento de infantilidade. Por isso, com meu silêncio, quero incentivar os cristãos a refletirem acerca de seu voto, ponderarem biblicamente sobre a importância de uma cidadania consciente e exercerem seu papel na sociedade submetendo sua consciência a Cristo e sua Palavra, e não a um pastor, líder ou influenciador.
Portanto, ao invés de dizer em quem votarei, quero expor os princípios que orientam o meu voto. Vale lembrar que estes princípios são resultado da minha reflexão bíblica e teológica do tema, e por isso, são estritamente pessoais. A exposição destes princípios tem o propósito de produzir reflexão e não fazer deles orientações universais a todos os cristãos.
#1: Eu não votarei em candidatos envolvidos em casos de corrupção. Creio que a lei da ficha limpa, quanto cumprida e aplicada corretamente, traz um avanço importante para a democracia do Brasil. Sobram imperativos nas Escrituras, salientando a importância do governante ter um caráter marcado por integridade.
#2: Eu acredito na alternância de poder. O Partido dos Trabalhadores (juntamente com seu aliado histórico, MDB) está completando 16 anos no poder. Minha percepção é que a troca de governo será positiva para a nação.
#3: Eu defendo o regime republicano e a separação dos três poderes. O Executivo, Legislativo e Judiciário são poderes autônomos e independentes dentro da república. Essa separação é crucial para a saúde da nação. Portanto, não votarei em candidatos e partidos que demonstram tendência de emparelhamento do Estado, colocando os poderes da nação numa condição de subserviência à agenda de governo de um determinado partido.
#4: Eu não votarei em candidatos que usam seus títulos religiosos para angariar votos, especialmente pastores, bispos, evangelistas, etc. Creio que a vocação religiosa (ministerial) é distinta da vocação política. E os ministros chamados para servir ao povo na esfera da Igreja, devem preservar o princípio da separação entre Igreja e Estado. A sensação que tenho é que quando um político usa seu título religioso no âmbito político, ou é para fazer da sua igreja um curral eleitoral, ou para forçar a divulgação de uma integridade pessoal (que de maneira geral não existe).
#5: Eu estou convencido de que cristianismo bíblico rejeita os sistemas anárquicos e totalitários. Segundo a Escritura, o Estado tem papel importante na sociedade como ministro instituído por Deus (Rm. 13.1-7), mas este nunca pode reivindicar poder e autoridade absoluta (Ap. 13). O anarquismo não reconhece o Estado como agente de Deus e o totalitarismo transforma o Estado em um deus.
#6: Eu considero apenas candidatos que sejam pró-vida. A Escritura é clara acerca do valor e sacralidade da vida humana, desde a sua concepção (Sl. 139.13-16). Sendo assim, penso que toda forma de aborto é um atentado contra a vida de um inocente. Cabe aos governantes protegerem a vida humana independentemente de tempo ou condição.
#7: Eu vejo com bons olhos candidatos e partidos que defendam o Estado mínimo, liberdades individuais, liberalismo econômico e o direto à legítima defesa. Estou convencido que o ensino da Escritura sobre a a natureza e vocação estatal fala de uma atuação limitada do Estado, punindo o malfeitor (como agente de justiça) e “louvando” (isto é, incentivando) a prática de boas obras do indivíduo. Na Escritura, a generosidade, o cuidado do vulnerável, o desenvolvimento social, econômico, cultural, etc, é resultado da ação do indivíduo e não do Estado (Gen. 1.26-28; 2.15; Mq. 6:8; Rm. 13; 1Pe 2.12-17).
#8: Eu não voto em candidatos sem curso superior. Sigo este princípio, pois simplesmente entendo que aquele que deseja exercer sua vocação de maneira excelente, buscará preparo e conhecimento técnico. Isso se aplica a todas as áreas da vida, inclusive à política.
#9: Eu não creio que um candidato evangélico seja necessariamente um candidato preparado e honesto. Em São Paulo, ainda não encontrei um candidato que se apresenta como evangélico que seja mais discípulo de Cristo do que político, e que não tenha vendido a alma às agendas partidárias e ideologias políticas. Mas o fato de não ter encontrado este político, não quer dizer que este candidato não exista.
#10: Eu não voto em candidatos que sejam contra ou que trabalhem para impedir as ações anticorrupção e a ação do Ministério Público em suas iniciativas de coibir a corrupção como a Operação Lava-Jato; É exatamente por causa de tais iniciativas que o povo brasileiro pôde conhecer o tamanho do estrago da corrupção no país, aspirar mudança no cenário político, bem como clamar por governantes comprometidos com a ética e retidão.
#11: Eu não voto em candidatos que se dizem representantes de apenas uma parcela da sociedade (evangélicos, católicos, LGBT+, taxistas, agropecuaristas, etc.). Políticos devem buscar o bem comum, e não somente o bem de uma parcela da sociedade.
#12: Vejo com bons olhos candidatos que apresentem propostas de cuidado, formação e emancipação dos vulneráveis da sociedade. Muito embora eu creia que a prática de boas obras, demonstração de generosidade e ação misericordiosa sejam papeis do cidadão no contexto privado, também entendo que o Estado pode chegar em algumas esferas inalcançáveis ao cidadão comum (ex. reservas indígenas), desde que sua atuação não seja o mero assistencialismo, mas o trabalho que visa formação e emancipação do vulnerável.
#13: Eu não voto em candidatos que tenham agendas intervencionistas na igreja, família, artes, educação, etc. Considero apenas aqueles que valorizam o princípio da separação Igreja x Estado e liberdade religiosa, bem como atuem para garantir a autonomia da família, da educação, do trabalho e das artes.
#14: Não voto em candidatos que cerceiem a liberdade de imprensa e liberdade de expressão, sob a égide do “politicamente correto”. O compromisso de um político com a verdade deve ser maior do que seu compromisso com sensibilidades pessoais.
#15: Eu não acredito que o Redentor desta nação se levantará através das urnas e subirá a rampa do Planalto. Creio que há um só Redentor, Jesus. Políticos ajudam, projetos políticos bem feitos podem trazer avanço e desenvolvimento, mas o Estado sempre terá uma ação paliativa. A redenção do Brasil está em Jesus Cristo, na proclamação do Evangelho e sinalização do Reino.
#16: Voto, considero candidatos, julgo valores políticos e projetos de governo em espírito de oração, pedido ao Altíssimo, que domina sobre os reinos dos homens (Dn. 4.25), que faça uma obra plena de restauração em nossa nação.
Minha oração é que estes princípios possam ajudar você a refletir e ponderar o seu voto. Quer você concorde ou discorde, que ao escolher candidatos e votar, você submeta sua consciência a Cristo e sua Palavra.
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